Can You Play?
solo showexhibition text
by Guilherme Figueiredo
2021
Para alguém que se esquece das chaves de casa é complicado voltar a entrar. É-se trancado fora do significado confortável das coisas. O modo de entrar está lá dentro e só entrando dá para entrar.
Qualquer tentativa de entrar será de um modo furtivo, terá que ser feita uma investigação, um processo de repetidas tentativas até se encontrar uma racha nos significados embriagados.
De todas as vezes que se sai, um novo grafismo nasce e o desenho aqui canaliza as coisas ditas de uma miragem tóxica. As palavras são decantadas tornadas só mesmo no essencial, é rasgada a assimilação do que é escrito para ser lido e o que é que escrito para ser desenho. As imagens repetem-se tanto que elas planificam-se com o peso de todas as réplicas e clones das tentativas de mergulhar nelas. As telas da Midões são pesadas, porque carregam todas as pegadas que se dá quando se joga à macaca — e a macaca iniciou-se como um exercício de treino para a guerra.
Do mesmo jogo nascem centenas de outros. Cada vertente destrói as barreiras de múltiplas definições de vários jogos, balançam-se entre céu e inferno e tudo no meio é uma sopa de letras que só constrói significados sem significado (com significado) à medida que se vai comendo. As pinturas são a chave para entrar dentro delas.
1, 2, 3, 4, 5... tudo são lados de tabuleiros prontos a ser jogados. Tabuleiros já iniciados com as peças no momento da eterna tensão. Tabuleiros desfeitos com mau perder.
O jogo começa quando se erra.
Se cada vaga pista de que está presente um jogo ou alguma forma de jogabilidade praticável se transformam num convite, então este espaço expositivo enche-se imediatamente de solicitações e tentações
para que quem entra se torne jogador. Um casino isola cada jogo em várias mesas formando assim uma organização para cada modo de fazer. Tal como os recreios apresentam as estruturas sem as empilhar de modo a se tornarem praticáveis. Casinos, salas de bingo, recreios, campos de mini golfe, todos são espaços que dependem da lógica para sobreviver. Mas sobrevivência nos espaços da Midões implicam mesmo o caos criado da disparidade de assuntos que voam e se
colam nas superfícies a velocidades alucinantes.
Estes remendos são engodos da lógica da leitura, rasteiras à prática do desenho — Os jogos perdem o sentido das origens, são transformados e desfeitos em rituais. Os espaços da Midões não são construídos a partir de uma lógica de isolamento das partes. Eles são recreios inoperacionais de tubos, silhuetas e figuras que se entrelaçam entre factos e ficção — entre jogo e real. O convite aqui é em encontrar uma lógica de jogabilidade e não o jogar em si. Ler as inscrições de modo a se construir um puzzle com peças, inevitavelmente, turvas.